terça-feira, 8 de março de 2011

Cafés que contam histórias.


Conhecer alguns cafés da capital argentina equivale a visitar um museu ou fazer um passeio histórico.  Ao andar pelas ruas, é preciso atentar para as portas dos cafés.
 Os que levam o selo "Cafés Notables" são, no mínimo, muito tradicionais e merecem uma visita, ainda que o selo não garanta qualidade de atendimento.
 
O Tortoni é o café portenho mais conhecido pelos turistas. Fundado em 1858, a história do café afrancesado se confunde com a da cidade. A fachada do edifício de três andares é toda de ferro e vidro, com varandas em estilo francês. No primeiro andar funciona a Academia Nacional de Tango.
O café fica no térreo, onde estão também um salão de bilhar e um de shows. No subsolo funciona uma bodega onde há concertos de tango e de jazz. Ao redor das mesas do Tortoni já se sentaram o cantor Carlos Gardel, os escritores Federico Garcia Lorca e Jorge Luis Borges, o filósofo Ortega y Gasset, o pintor argentino Xul Solar e outras personalidades.
Com vitrais coloridos, piso de granito e pé-direito alto, a confeitaria Las Violetas é de 1884. As avós da Plaza de Mayo costumavam reunir-se ali, clandestinamente, simulando comemorar algum aniversário para encontrar formas de recuperar seus netos seqüestrados durante a ditadura militar.

Um pouco menos antiga, a confeitaria Ideal, aberta em 1912, tem uma fachada esplendorosa. São dois andares. No de baixo, o café e a confeitaria. No de cima, salão de tango onde há uma das milongas mais tradicionais da cidade, todo final de tarde.
O ex-presidente Hipólito Yrigoyen (1852-1933) mandava comprar biscoito do tipo palmeira ali nos ano 20. Na Ideal, Alan Parker gravou cenas do filme "Evita", estrelado por Madonna em 1996.
 Em 1998, Las Violetas e a Ideal foram declaradas locais de proteção histórica e interesse cultural. 

Ainda no estilo belle-époque, o café Richmond, que funciona desde 1917, tem a frente de vidro. O projeto é do arquiteto belga Julio Dorma, que dirigiu a última etapa das obras no teatro Colón. 
A vitrine do Gato Negro, irresistível, é repleta de especiarias do mundo todo. A cada hora o local tem um cheiro diferente, depende da moenda que estiver funcionando no momento. São chás, cafés e temperos vendidos ali desde 1926. O Gato Negro introduziu em Buenos Aires os produtos da parisiense Fauchon.

Em frente ao parque Lezama, no bairro San Telmo, fica o Café Britânico, na Calle Defensa, a rua das antigüidades. Ali, sentado na primeira mesa à esquerda da porta de entrada, bem ao lado da janela, Ernesto Sábato escreveu trechos de seu livro "Sobre Heróis e Tumbas". Em 1982, quando começou a Guerra das Malvinas, os donos tiraram as três primeiras letras do nome do café, que virou Tânico. Retomadas as relações diplomáticas entre Argentina e Inglaterra, o Britânico resgatou o nome original, que ganhou em 1930.
Ainda em San Telmo, o café Bar Plaza Dorrego é tipicamente portenho. As mesas de madeira são cheias de assinaturas e declarações de amor. Nas paredes, fotos de Carlos Gardel e Roberto Goyeneche, também conhecido por "Polaco", e uma histórica foto do encontro de Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato, nos anos 70.
Também valem a pena o Bar Bar O e o café Garcia, com chão quadriculado em branco e preto e paredes repletas de fotos e objetos, como uma camiseta da seleção argentina assinada por Maradona. A antiga máquina de expresso é uma atração à parte.
Outro cenário da literatura, o London City, próximo à plaza de Mayo, emprestou as mesas para Julio Cortázar escrever o romance "Os Prêmios". O edifício, remodelado em 1910, fica ao lado da suntuosa Casa da Cultura, ex-sede do jornal "La Prensa".

Endereços:
Bar Bar O – Três Sargentos, 405
Britânico – Brasil, 399 –esquina com Defensa 
Confiteria Las Violetas – Rivadavia, 3849 esq. Medrano 
Bar Plaza Dorrego – Defensa, 1908 
El Gato Negro – Corrientes, 1669 
Confiteria Ideal – Suipacha, 384 
London City – Avenida de Mayo, 590
Richmond – Florida, 468
Tortoni – Avenida de Mayo, 825
Café Garcia – Sanadria, 3302 – esq. Jose Pedro Varela 

 

2 comentários:

  1. Puxa, muito obrigado por comecar um blog com dicas de Buenos Aires exatamente DURANTE uma viagem minha para a cidade. Só fiquei sabendo da existência do
    "Beunas Dicas" hoje, já de volta a SP.

    Fiquei quase dois anos e meio sem ir para lá. Custava ter começado o blog semana passada? Custava ter avisado? Não, tinha que ser ENQUANTO eu estivesse lá. Como diria a imortal Mirtha Legrand: mierda, carajo, así no.

    ResponderEliminar
  2. hahaha...fiz o blog durante meu carnaval em punta e ainda nem divulguei oficialmente. aguardo tuas colaborações! besos.

    ResponderEliminar